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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Educação Infantil : Comportamento e desempenho escolar
Comportamento e desempenho escolar
Uma pesquisa, feita no campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, investigou a associação entre comportamento e desempenho escolar entre meninos e meninas. O estudo indica como a qualidade das relações estabelecidas na escola de educação infantil pode afetar o aprendizado das crianças.
O trabalho avaliou o comportamento das meninas mais positivamente, ao passo que o desempenho escolar foi mais fortemente associado aos comportamentos interpessoais no grupo masculino. Para ambos os sexos, foram avaliados o comportamento - na relação com a tarefa, com os colegas e com o professor - e o desempenho a partir de sondagem de leitura e escrita.
Comportamentos interativos
Segundo a coordenadora do estudo, a professora Edna Maria Marturano, da Faculdade de Medicina, os resultados destacam uma clara associação entre a qualidade dos comportamentos interativos, avaliados pelo professor no fim do ano, e o desempenho em tarefas que envolvem noções básicas de leitura e escrita.
"Mas as associações encontradas não traduzem em si uma relação de causa e efeito. Interpretamos os resultados com base em autores que acompanharam as crianças desde o início até o fim do ano e observaram que a qualidade dos relacionamentos da criança no primeiro momento influenciava o desempenho posterior", disse Edna à Agência FAPESP.
A pesquisa, que foi publicada na revista Psicologia em Estudo, foi desenvolvida em escolas públicas municipais do interior de São Paulo. Participaram 133 alunos, sendo 68 meninos e 65 meninas, de 5 a 7 anos de idade, e seus professores (sete mulheres e um homem). O trabalho é resultado da dissertação de mestrado da psicóloga Elaine Cristina Gardinal, sob orientação de Edna.
Comportamentos dos meninos
Os professores consideraram os meninos menos respeitosos, tolerantes e controladores no relacionamento com os colegas, mas mais agressivos. Nas atividades escolares, eles são vistos como menos ordeiros e aplicados, mas mais inquietos, salientes, desatentos, retraídos, confusos e descuidados.
Gênero do professor determina avaliações
Segundo Edna, o fato de a maioria dos professores ser do sexo feminino é uma variável que pode influenciar no resultado. "A pesquisa discute essa possibilidade. Professoras de crianças pequenas tendem a ignorar com mais freqüência os comportamentos inadequados das meninas, prestando mais atenção aos dos meninos. Elas respondem mais, e com mais atenção negativa, aos comportamentos dos meninos."
"No entanto, não temos conhecimento de estudos comparativos mostrando que os professores homens agem ou agiriam de modo diferente. Eu mesma tive oportunidade de observar um professor de educação infantil que ignorava o choro das meninas e repreendia os meninos quando choravam, dizendo que 'homem não chora'", disse.
Comportamento e capacidade intelectual
As autoras aplicaram três instrumentos para avaliar o comportamento, a capacidade intelectual e noções de leitura e escrita, respectivamente: Questionário para Caracterização do Desempenho e do Comportamento da Criança no Ambiente Escolar, Matrizes Progressivas de Raven e o método de Sondagem de Leitura e Escrita Inicial.
Elaine e Edna detectaram que meninos e meninas com melhores resultados em escrita e, principalmente, em leitura, foram avaliados como menos dependentes nos relacionamentos com o professor e com os colegas de classe. A dependência é apontada como prejudicial ao desempenho escolar das crianças na educação infantil.
"Dentre as possíveis interpretações podemos conjecturar, por exemplo, que uma criança mais dependente, pelo fato de tomar menos iniciativas, terá menos oportunidades de fazer descobertas, de enfrentar desafios, de buscar soluções por si mesma e de, portanto, aprender", afirmou Edna.
Importância dos relacionamentos
Em relação ao relacionamento com os colegas, meninos mais agressivos, provocativos, desrespeitosos, intolerantes e explosivos tiveram desempenho mais fraco na sondagem de escrita e leitura.
As pesquisadoras ressaltam que o estudo tem algumas limitações, como ter sido baseado no julgamento de professores e no fato de ser um correlacional, não havendo, portanto, uma relação direta entre causa e efeito.
Segundo Edna Marturano, os resultados, ainda que estejam alinhados com a literatura internacional, estão longe de ser definitivos e precisam ser qualificados por meio de replicações sistemáticas que explorem fatores associados, como variáveis do contexto e de práticas pedagógicas.
"Consideramos como contribuição da pesquisa o fato de ela propiciar uma reflexão sobre a importância dos relacionamentos na educação infantil. Incluímos apenas alunos que estavam na escola há menos de um ano e que, portanto, tiveram de se adaptar a um ambiente estranho, com colegas e adultos desconhecidos", disse.
"Sabe-se que problemas relacionais detectados nessa fase tendem a se perpetuar nos anos do ensino fundamental. Cabe, assim, ao professor da educação infantil a importante tarefa de ajudar a criança nessa adaptação e ele precisa ser capacitado para a tarefa, por meio de formação teórico-prática específica", destacou.
Alex Sander Alcântara - Agência Fapesp
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