sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Crianças mentem?





As crianças mentem porque tem medo de assumir uma posição com respeito a si próprias, de encarar a realidade como ela é. Freqüentemente elas estão imersas em medo, duvidas em relação a si mesmas, uma auto-imagem pobre, ou sentimento de culpa. São incapazes de enfrentar o mundo real que as cercam, e então recorrem a um comportamento defensivo, agindo de forma exatamente oposta aquilo que realmente sentem.

Com freqüência as crianças são obrigadas pelos seus pais a mentir. Estes talvez sejam severos ou inconscientes demais, pode ser que tenham expectativas demasiadamente difíceis de serem correspondidas pelas crianças, ou talvez não sejam capazes de aceitar a criança como ela é. A criança é então brigada a mentir como forma de autopreservação.

Quando a criança mente, costuma acreditar em si mesma. Ela tece em torno do comportamento uma fantasia que lhe seja aceitável. A fantasia torna-se um meio de expressar as coisas que ela tem dificuldade em admitir como realidade.

É preciso levar a sério as fantasias da criança. Muitos não ouvem, não entendem ou não aceitam a maneira como elas expressam seus sentimentos. Desse modo, a criança passa a não aceitar a si própria, e precisa recorrer á fantasia e subseqüentemente à mentira. É preciso começar a conhecê-la , ouvi-la, entendê-la e aceitá-la. Os sentimentos de criança são sua própria essência. Refletindo-lhe seus sentimentos, ela também passará a conhecê-los e aceitá-los. Só então a mentira pode ser vista realisticamente pelo que ela é: Um comportamento do qual a criança faz uso para sua sobrevivência.

As crianças constroem um mundo de fantasia porque julgam seu mundo real difícil de viver. Tem uma porção de fantasias de coisas que jamais aconteceram realmente. No entanto tais fantasias são muito reais para essas crianças, e amiúde são mantidas dentro, fazendo com que àss vezes elas se comportem de maneiras inexplicáveis. Essas fantasias reais-imaginadas com freqüência despertam sentimentos de medo e ansiedade; elas precisam ser trazidas a luz para serem lidas e terem fim.

Muitos adultos ainda vivem uma realidade imaginaria, de fantasia e mentira, forjam um mundo menos difícil de se viver. E tudo começou quando criança. Ela precisava falar e não tinha quem ouvir.
A habilidade de mentir

A professora canadense Victoria Talwar, do departamento de educação e conselho psicológico da Universidade McGill, de Montreal (Canadá), começou a estudar o comportamento das crianças há dez anos e deu de cara com ela: a mentira. Seu interesse, a princípio, era no desenvolvimento cognitivo das crianças e na habilidade delas de entender a perspectiva do outro. Chegou à conclusão de que “mentir é um comportamento que demonstra essa habilidade”. É como se a honestidade exigisse, digamos, menos esforço. “Para mentir – e mentir bem –, a criança precisa entender no que a outra pessoa acredita e saber de maneira estratégica adaptar a falta de verdade para ser plausível”. Mas isso não simplifica em nada essa história.

1 . Com quantos anos as crianças começam a mentir?

Algumas antes dos 2 ou 3 anos. Quando chega aos 4, a maioria diz mentiras ocasionais. Isso parece se desenvolver mais ou menos ao mesmo tempo que outros sinais cognitivos, uma consequência da sofisticação desse crescimento.

2. Existe um período no qual mentir é normal?

Sim. Por nossas vidas inteiras. Estudos feitos com adultos sugerem que nós contamos cerca de sete mentiras por dia. A maioria delas, pequena. Por exemplo, quando uma amiga pergunta se você gostou do vestido dela, mesmo achando a cor feia, você diz que gostou, para não a ofender. O que não é normal é mentir cronicamente e, quando chega aos 10 anos, a maioria das crianças mente desse modo. Já as bem novinhas vão mentir mais indiscriminadamente, como negar que bateu no cachorro, quando você estava lá e viu que foi ela. É assim que aprendem o que podem ou não fazer.

3. É verdade que crianças espertas mentem mais?

É mais provável que crianças inteligentes mintam mais cedo e contem mentiras plausíveis. Você pode dizer para um pai que vê seu filho de 2 anos e meio mentindo que ele deve se alegrar porque a criança está começando a desenvolver suas habilidades cognitivas, que são vitais para o crescimento futuro. Claro, continuamos querendo ensinar nossas crianças a ser honestas. Mas podemos ver que a mentira é o resultado inicial de um desenvolvimento positivo e depende dos pais ensinar seus filhos a ser honestos.

4. Como não confundir mentira com fantasia?

Frequentemente são confundidas. Fantasia é brincar de faz de conta, e isso é uma parte muito rica da vida imaginativa; as crianças aprendem sobre o mundo e incentiva a criatividade delas.

5. O que fazer quando a mentira é uma influência, ou seja, quando é o amigo que mente e aí ele passa a mentir também?

Os pais devem contar para os responsáveis do amigo da criança, mas eles podem não acreditar. Está nas mãos deles lidar com os próprios filhos. De qualquer forma, você pode falar com a criança sobre a importância de dizer a verdade e lidar com esse comportamento mentiroso. É importante também explicar que algumas vezes outras pessoas mentem, mas que isso não torna a mentira um comportamento aceitável.

Agradecimentos: Fábrica ideias para Crianças – tel. (11) 3034-3044

Fontes: Quézia Bonbonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia; Solange Aparecida Emílio, professora de Desenvolvimento Infantil na Faculdade de Psicologia da Universidade Mackenzie (SP); Miriam Debieux, professora das Faculdades de Psicologia da PUC e USP – SP; Elizabeth Brandão, professora da Faculdade de Psicologia da PUC – SP; Ana Maria de Almeida Felice, orientadora pedagógica da Escola Carlitos (SP); Fernanda Lopes de Almeida, psicóloga e autora de livros infantis, entre os quais a obra As Mentiras de Paulinho (Ed. Ática)

(Descobrindo Crianças- Violet Oaklander-Ed. Summus)

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